Garantidos como territórios da Rede Mundial de Geoparque da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Caçapava do Sul e Quarta Colônia têm promovido ações para potencializar ainda mais suas localidades. No último domingo (4), foi realizado o 1° Encontro Brasileiro de Geoparques, no distrito de Vale Vêneto, em São João do Polêsine. Autoridades estaduais, regionais e locais e representantes de outros geoparques do país estiveram no local com o objetivo de construir conexões, trocar experiências e qualificar ainda mais os projetos envolvidos.
Rede Brasileira de Geoparques
Nesta segunda-feira (5), também como parte do 1º encontro, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) – que liderou e encampou os projetos –, foi palco de várias atividades entre os participantes. Na ocasião, foi oficializada a criação da Rede Brasileira de Geoparques Mundiais da Unesco, na presença dos cincos representantes dos Geoparques: Quarta Colônia, Caçapava do Sul, Seridó, Araripe e Caminhos dos Cânions do Sul.
Em entrevista ao Grupo Diário, a geógrafa e diretora do Geoparque Quarta Colônia, Jaciele Sell, destacou a importância da iniciativa:
– Desde 2010, eles estão trabalhando nisso. Mas como era só um Geoparque, era difícil. Em dois anos, vieram mais quatro. Agora, faz mais sentido e dá mais força para a iniciativa.
A conquista também é comemorada pelo advogado e coordenador do Geoparque Araripe, José Patrício Pereira Melo. Em 2006, o parque localizado no sul do Ceará foi chancelado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), tornando-se o primeiro Geoparque em solo brasileiro.
– Hoje, em um grupo com cinco Geoparques mais maduros, aproveitamos esse congraçamento e fincamos mais uma bandeira. Demos mais um passo ao firmar essa Rede Brasileira, com o papel de apoiar outros geoparques e partilhar experiências positivas e problemas que sabemos que tem, além de angariar investimentos da iniciativa privada e dos governos federal e estadual, que é o nosso papel. Recebemos tudo isso com muita alegria.
Conforme o professor e coordenador científico do Geoparque Seridó, Marcos Antonio Leite do Nascimento, a iniciativa deve ajudar os projetos aspirantes a conquistarem o reconhecimento.
– Para nós, é uma honra estar em Santa Maria e na Universidade Federal propagando a temática Geoparque, mas principalmente, criando a Rede Brasileira de Geoparques Mundiais da Unesco. Ela vai auxíliar não só os cinco geoparques a trabalhar, mas também favorecer os aspirantes a projetos a se tornarem o que somos hoje.
Além dos geoparques Quarta Colônia e Caçapava, o Rio Grande do Sul conta com o Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul. Em 2019, a comissão encaminhou a Unesco o dossie com mais de 50 pontos, distribuidos em municípios localizados na divisa entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O parque recebeu a certificação em abril de 2022.
– É um sonho antigo de todos aqueles que já participaram desses processos e que estão trabalhando a muito tempo – afirma a coordenadora científica do Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul, Beth Rocha, sobre a criação da Rede Nacional.
Com sistema de coordenação alternada, a gestão da Rede Nacional será do geoparque Quarta Colônia até o final de 2023. O próximo Encontro Brasileiro de Geoparques ocorrerá em Seridó (RN), em 2024.
Encontro
Durante todo o dia foram feitas várias reuniões, palestras e seminários na universidade para falar sobre o tema. O primeiro deles foi “Práticas sustentáveis em territórios de Geoparques Mundiais da Unesco: Geoparque Quarta Colônia e Geoparque Caçapava”, seguido pelo seminário “Práticas sustentáveis em territórios de Geoparques Mundiais da Unesco: Geoparque Seridó, Geoparque Araripe e Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul”. Esses três últimos, eram, até então, os únicos geoparques brasileiros ligados à Rede Mundial. Com a chegada dos dois geoparques da Região Central do Rio Grande do Sul (Estado brasileiro com maior número de geoparques), o Brasil passou a contar, ao todo, com cinco territórios reconhecidos pela agência da Organização das Nações Unidas (ONU).
A criação de uma Comissão Nacional de Geoparques foi abordada pelo diplomata e chefe da divisão de assuntos multilaterais culturais do Ministério das Relações Exteriores, Cristiano Rabelo. A participação ocorreu a partir de videoconferência com o público presente no auditório C, entre os prédios 17 e 18.
– Mesmo que ainda não tenhamos essa estrutura, o Brasil não vai deixar de apresentar candidaturas ou ampliar essa cobertura – concluiu Rabelo.
Com mediação do professor e pró-reitor de Extensão da UFSM, Flavi Ferreira Lisboa Filho, ocorreu um encontro entre prefeitos e autoridades de territórios de Geoparques Mundiais no auditório Milton Santos, no prédio 17. Os resultados da reunião foram adicionados à Carta de Santa Maria, que regula e estabelece os objetivos da Rede Brasileira de Geoparques Mundiais da Unesco.
À noite, ocorre a conferência com José Luis Palácio Prieto, representante do Geoparque Mixteca Alta (México).
Programação
Desta terça até domingo, acontece o 4º Encontro Luso-Brasileiro de Patrimônio Geomorfológico e Geoconservação – Geoconservação e Desenvolvimento Territorial: Realidade e Desafios, reunindo pesquisadores e estudantes para debater questões como patrimônio geomorfológico e geoconservação: inventário, valoração e proteção; geoturismo e interpretação patrimonial; estratégias geoeducativas e desafios de formação profissional em geoconservação; e o papel das comunidades no desenvolvimento territorial em geoparques.
Os eventos são organizados pela UFSM, Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território, Universidade do Minho, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Universidade de Coimbra, Universidade Federal de Pelotas e Universidade de Brasília, com apoio da Unesco e de outras instituições.